Um
dia entreguei minha vida a Cristo porque entendi que só Ele seria capaz – como de
fato o é – de me garantir a vida eterna. Tal convicção não ocorreu do dia para
a noite, embora eu tenha me tornado um evangélico no primeiro dia que fui à
igreja. No entanto, apesar de estar na igreja, a igreja – leia-se os santos de
todos os tempos – não estava em mim. Era partícipe dela, mas não estava integrado
a ela.
No
entanto, Deus, na Sua infinita misericórdia e com a graça que lhe é peculiar,
foi-me moldando, me ensinando, demonstrando que me compreendia e revelando todo
o Seu amor por mim. Não pude resistir. Rendi-me a Ele e deixei-o dominar-me por
completo. Tornei-me um cristão. Repleto de falhas, mas, cristão.
Nessa
caminhada – de quase trinta anos – ao lado de Cristo, vi a igreja – repito,
refiro-me aos santos de todos os tempos – passar por muitas situações esdrúxulas
e, em algumas delas, inclusive, fui “ator coadjuvante”. Aprendi que os homens
caem. Aprendi, também, que Deus é misericordioso e, por isso mesmo,
extremamente rico em perdão. Vi – e ouvi sobre – casos escabrosos que foram
solucionados, única e exclusivamente, por causa do amor misericordioso de Deus.
Isto me animou a continuar servindo a este Deus maravilhoso. Não que não
tivesse conhecimento de que Ele fosse assim (a Bíblia relata vários casos em
que esse amor misericordioso se manifestou. A mulher apanhada em flagrante
adultério, por exemplo, é um deles – João 8:3-11. Aliás, tal episódio levou
Brennam Manning a escrever a impactante frase: “o amor de Deus não tem nenhuma
dignidade”. Quis, o escritor suso
mencionado, expressar que, enquanto as pessoas não perdoam por causa de suas
dignidades, Deus o faz porque abre mão dessa dignidade por amor dos pecadores).
Ocorre que uma coisa é ter conhecimento desse amor e outra é ver esse amor se
manifestando nas nossas vidas.
Algo,
entretanto, ficou marcado em mim nos episódios que presenciei, assim como nos que
li na Bíblia. Os envolvidos sempre se arrependeram e, não apenas o fizeram por
palavras, mas deram demonstrações práticas de tal arrependimento. Aliás, o
próprio Senhor cobrou isto. No caso da mulher adúltera, citada alhures, o
Senhor Jesus disse: “Eu não te condeno. Vai e não peques mais”. É óbvio que o
Senhor sabia que seria impossível aquela mulher não mais pecar. Entretanto, o
princípio insculpido no magistério do Mestre é de que a pessoa deve vigiar e se
esforçar para não mais cometer pecados, sobretudo aqueles que atentam contra a honra,
a moral e os bons costumes. É como se o Senhor estivesse dizendo: “não cometa
mais esse pecado”; ou, “não continue se sujando nesse lamaçal que você se meteu”.
Estou
escrevendo isto porque, a cada dia, fico mais estarrecido com atitudes de
pessoas que maculam o Evangelho. Todos os dias ouço relatos de pessoas,
teoricamente santas, que caem nos laços do pecado. Obviamente que todos pecam,
mas estou me referindo a pecados que, do ponto de vista da sociedade, não são
tolerados. Porém o que mais me chama a atenção – e, talvez por isto, revele o
meu lado obtuso, despraparado intelectualmente e incapaz de assimilar certos
conceitos – não é a queda (visto que todos podemos cair), mas o fato de tais
pessoas entenderem que, por terem se arrependido e pedido perdão, ou ainda, por
terem, simplesmente, reconhecido seus erros, alcançaram a misericórdia do
Senhor e estão autorizadas a continuar pecando. Parece, até, que nunca leram o
provérbio bíblico que preconiza: “aquele que confessa suas transgressões e deixa, alcançará misericórdia.”.
Não
quero, com isto, me imiscuir no relacionamento entre as pessoas que assim agem e
Deus. A Bíblia ensina que “o homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração.” –
1º Samuel 16:7. No entanto, a Bíblia também ensina que as pessoas são
conhecidas pelos frutos – Mateus 7:16 –, o que me leva a inferir que posso
tirar minhas conclusões baseadas nas atitudes delas. E é aí que vem a decepção.
Tristemente constato que as atitudes de muitos cristãos não condizem com o que
eles dizem ser. Tristemente constato que as pessoas, sob o argumento de que se
arrependeram, continuam produzindo frutos apodrecidos em detrimento de um
Evangelho imaculado. Tristemente constato que muitos, sob o argumento de
servirem a um Deus amoroso, relevam as atitudes pecaminosas de outros e as
defendem como se o amor de Deus fosse um salvo conduto para os pecadores
continuarem caminhando no pecado.
Não
sei, sinceramente, se eu me perdi no tempo e me tornei ultrapassado por insistir
em seguir o Jesus que conheci há quase trinta anos (um Jesus misericordioso,
amoroso, gracioso e que me enche de esperanças) ou se esse Jesus mudou (sem que
eu tenha percebido) e acrescentou aos seus ensinos a permissividade e a
relativização dos pecados.
A
única coisa que peço, neste momento tão confuso pelo qual a igreja passa –
sobretudo no Brasil – é que Deus tenha misericórdia de mim, pois, como dito,
sou tão despraparado intelectualmente que não consigo fazer uma hermenêutica extensiva
da Bíblia ao ponto de me sentir autorizado a subsumir as atitudes pecaminosas
aos ensinamentos consagrados Nela.
Que
Deus tenha misericórdia de mim para que eu não caia, e, se eu cair, que Ele
tenha, igualmente, misericórdia, para que eu não queira justificar a minha
queda nos ensinamentos constantes na Bíblia, ensinamentos estes que, conjugados,
depõem exatamente contra a queda (pelo menos é assim que eu, na minha
limitadíssima maneira de interpretar, consigo compreender).
Seja
abençoado(a).
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